O Dr. Leonardo Manzan analisa que a reforma tributária em andamento não apenas busca simplificar o sistema de tributos, mas também impacta diretamente a dinâmica do federalismo fiscal brasileiro. A redistribuição da arrecadação entre União, estados e municípios é um dos pontos mais sensíveis do debate, pois altera a forma como os entes federativos financiam suas políticas públicas. Nesse cenário, compreender os efeitos dessa mudança é fundamental para avaliar os riscos e as oportunidades que se desenham.
Dr. Leonardo Manzan e os desafios da repartição de receitas
Leonardo Manzan explica que a adoção do Imposto sobre Bens e Serviços (IBS) e da Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS), que substituirão tributos hoje cobrados de forma fragmentada, representa uma alteração estrutural significativa. O princípio da cobrança no destino, em substituição ao modelo atual baseado na origem, modifica profundamente a lógica de arrecadação. Estados exportadores, que tradicionalmente arrecadam mais, podem enfrentar perdas, exigindo mecanismos compensatórios robustos.
Ademais, a criação do Conselho Federativo para gerir a arrecadação e distribuição do IBS levanta debates sobre autonomia dos entes subnacionais. A concentração das decisões em um órgão colegiado pode gerar disputas políticas e questionamentos sobre a preservação da independência federativa, um dos pilares da Constituição brasileira.

Impactos sobre estados e municípios
De acordo com Leonardo Manzan, a redistribuição da carga tributária tende a beneficiar municípios e estados consumidores, que passarão a arrecadar mais em razão do critério do destino. Por outro lado, entes federativos que dependem da produção e exportação de bens podem enfrentar queda de receitas. Essa assimetria exige um sistema de transição equilibrado, capaz de evitar desequilíbrios fiscais que comprometam a prestação de serviços essenciais.
De maneira adicional, os municípios de pequeno porte podem enfrentar dificuldades adicionais. Embora se preveja simplificação, o processo de adaptação às novas regras demandará investimentos em tecnologia e capacitação administrativa. A falta de recursos para implementar tais mudanças pode ampliar desigualdades entre regiões.
Segurança jurídica e federalismo cooperativo
O Prof. Leonardo Manzan ressalta que a segurança jurídica deve ser prioridade no processo de implementação da reforma. A clareza nas normas de transição e a definição precisa das competências de cada ente federativo são condições indispensáveis para evitar litígios e incertezas. A cooperação entre União, estados e municípios será determinante para o êxito do novo modelo.
Nesse sentido, o fortalecimento do federalismo cooperativo pode ser a chave para equilibrar interesses divergentes. A coordenação entre os entes deve permitir não apenas a repartição justa das receitas, mas também a execução eficiente de políticas públicas voltadas ao desenvolvimento regional e à redução das desigualdades sociais.
Perspectivas para o pacto federativo no pós-reforma
Segundo Leonardo Manzan, a reforma tributária abre caminho para uma reconfiguração do pacto federativo brasileiro. A centralização de competências arrecadatórias no IBS pode, ao mesmo tempo, aumentar a eficiência do sistema e reduzir a autonomia dos entes. O equilíbrio entre essas duas forças será decisivo para garantir a legitimidade do modelo.
Além disso, o sucesso da reforma dependerá da capacidade de garantir previsibilidade. A adoção de regras claras sobre a transição, os critérios de compensação e a gestão do Conselho Federativo será essencial para construir confiança e permitir que estados e municípios planejem suas finanças com segurança.
Desafios e oportunidades para o federalismo fiscal
Leonardo Manzan frisa que a reforma tributária deve ser vista não apenas como uma simplificação de tributos, mas como uma mudança estrutural no federalismo fiscal brasileiro. Seus reflexos podem fortalecer a arrecadação no destino e promover maior equilíbrio entre regiões, mas também apresentam riscos de concentração de poder e conflitos federativos.
Portanto, o êxito desse processo dependerá da criação de mecanismos de compensação eficazes, da preservação da autonomia federativa e da construção de um ambiente jurídico previsível. Somente assim o Brasil poderá alcançar um modelo tributário mais justo, equilibrado e alinhado às necessidades de todos os entes federativos.
Autor: Aleeskeva Pavlova